Marx - A essência subjetiva da propriedade privada [do ponto de vista liberal]

No texto abaixo Marx faz uma crítica ao modo como o liberalismo defende a noção de propriedade: 

 

 

A essência subjetiva da propriedade privada, a propriedade como atividade para si, como sujeito, como pessoa, é o trabalho. Compreende-se pois que somente a economia política que reconheceu o trabalho como seu princípio – Adam Smith – e portanto não mais reconhece a propriedade privada como um estado exterior ao homem, que essa economia política deva ser considerada tanto um produto da energia real e do movimento da propriedade privada (é um movimento autônomo que se tornou para si na consciência, é a indústria moderna como sujeito), como produto da indústria moderna, que por sua vez acelera e enaltece a energia e o movimento dessa indústria, transformando-a numa força de consciência. (...) Se essa economia política começa, pois, sob a aparência do reconhecimento do homem, de sua autonomia, de sua atividade própria, etc., ao transferir a essência mesma do homem à propriedade privada, não pode ser condicionada pelas determinações locais, nacionais, etc., da propriedade privada, como um ser que exista fora dela, isto é, se essa economia política desenvolve uma energia cosmopolita, geral, que derruba todas as barreiras e todos os laços, para se colocar como a única política, a única generalidade, a única barreira, o único laço, assim tem de se rejeitar em seu desenvolvimento posterior essa hipocrisia e tem de aparecer em seu cinismo total; e ela o faz (despreocupada de todas as contradições aparentes em que sua doutrina a envolve) ao desenvolver mais unilateral e por isso mais aguda e mais consequentemente o trabalho como a única essência da riqueza, ao provar a desumanidade das consequências desta doutrina, em oposição àquela concepção originária, e ao dar, por último, o golpe mortal àquele último modo de existência individual, natural, independente do movimento do trabalho, da propriedade privada e fonte de riqueza – a renda da terra –, essa expressão da propriedade feudal já totalmente economificada e incapaz por isso de resistir à economia política. (...) Ao converterem em sujeito a propriedade privada em sua figura ativa, ao mesmo tempo fazem tanto do homem uma essência, como do homem como não-ser uma essência, de modo que a contradição da realidade corresponde perfeitamente à essência contraditória tomada como princípio.

Marx. Manuscritos econômico-filosóficos. Terceiro Manuscrito. I.36